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Olhar o mundo até que ele te olhe de volta

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O cultivo do Corpo Selvagem _____ vol 2

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Verbena Cartaxo
jul 02, 2025
∙ Pago
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Olhar o mundo até que ele te olhe de volta
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Este é mais um envio do ciclo Seselelame: o cultivo do Corpo Selvagem, uma travessia em cinco seis semanas pelos sentidos — não como funções biológicas isoladas, mas como formas de escutar, sentir e criar mundo.

Entre as muitas lentes que nos ajudam a explorar essa sensorialidade expandida, duas em especial nos acompanham essa semana: o conceito de Seselelame — nosso fio condutor —, tal como apresentado por Philip Shepherd em seu livro Radical Wholeness, e a filosofia do francês Maurice Merleau-Ponty, que nos convida a explorar o olhar não como um ato puramente ótico ou racional, mas uma experiência vivida a partir de um corpo que é ele próprio parte do mundo que observa. “Quem olha”, o filósofo escreve, “não pode ser estrangeiro ao mundo que olha.”

Ao longo do ciclo, outras vozes se somarão a essa travessia. Na escuta, Ailton Krenak nos ensina a ouvir os ritmos da Terra, os rios, as pedras e tudo aquilo que vive — uma escuta que é vínculo e cuidado. Essa sensibilidade encontra eco na escrita da autora Carola Saavedra, que vê a escuta como entrega radical: uma atenção que acolhe o silêncio e o inacabado.

No tato, Lygia Clark transforma o toque em linguagem viva, dissolvendo as bordas entre corpo, arte e mundo. Ao seu lado, Erin Manning pensa o corpo como movimento em devir — onde o toque antecede a forma, e o gesto é pensamento encarnado.

No olfato, David Abram nos oferece uma ecologia da percepção, em que os aromas e os fluxos invisíveis do mundo são formas de linguagem — o olfato como sabedoria que nos religa ao campo sensível da vida.

E no paladar, Michael Pollan nos mostra o comer como gesto sensorial, político e espiritual: uma escuta do mundo pela boca. Ao seu lado, Carolyn Steel revela como o alimento molda não só o corpo, mas a própria forma como habitamos o tempo e a cidade.

Vozes que formam um belo tecido de ideias e nos convidam a reencantar a percepção, desfazer a separação entre mente, corpo, mundo e Natureza, e cultivar outras formas de presença.

A proposta desse ciclo criativo não é acumular teorias ou construir na mente uma biblioteca conceitual, e sim nos lembrar que o Corpo também precisa ser lido e investigado.

Por isso, junto a cada mergulho poético-teórico, você será convidada a se aproximar do sentir por meio de práticas de autoinvestigação — não como exercícios a serem “executados”, mas como espaços de encontro com você mesma. Proposições que podem (e devem) ser vividas no seu próprio ritmo, no tempo que fizer sentido para você, sem a pressão de acompanhar um calendário externo. São práticas de movimentos, escrita, rituais e pequenas ações cotidianas que nos ajudam a experimentar ideias na prática e desfazer o abismo entre o que sabemos na teoria e o que conseguimos sustentar quando estamos diante de nós mesmas e do mundo.

Para acessar o texto abaixo na íntegra, a versão em áudio e a experiência que o acompanha, torne-se uma das apoiadoras e Guardiãs da Vagarosa. Ao escolher a assinatura paga anual, você, além de desfrutar deste e dos próximos ciclos criativos que acontecerão, também estará presenteando uma mãe solo com a possibilidade de vivenciar essa mesma experiência. Quatro mães já foram presenteadas!

Será um privilégio te conduzir por esse tecido de ideias, partindo da experiência do Corpo como campo poroso e totalidade sensível — tema que já começamos a experimentar no primeiro envio, disponível aqui.

Nos vemos dentro do Vagarosalab.

Olhar o mundo até que ele te olhe de volta — o repouso do foco e o despertar da escuta visual

🎧 a versão em áudio está no final do texto

A visão, em nossa cultura, é frequentemente associada ao exercício da vigilância. Aprendemos que “ver para crer” ou “ver para entender o que está acontecendo” são os caminhos para validar a realidade. Assim, o olhar se converte em instrumento de análise, julgamento e domínio — uma lente que busca capturar o mundo inteiro, sem nunca realmente repousar nele, como se estivéssemos sempre atrás de algo que escapa ao nosso alcance.

Hoje, o olhar se transformou também em uma forma de operar no mundo: funcional, acelerada, fragmentada. Carregamos a crença de que precisamos estar atentas a tudo, o tempo todo. Somos ensinadas a fazer várias coisas ao mesmo tempo — e celebradas por isso. Mas o que chamamos de “multitasking” é, na verdade, um estado contínuo de hiperalerta: um escaneamento incessante, em que o foco se alterna rapidamente, os pensamentos se atropelam, e as respostas chegam antes mesmo que possamos escutar por inteiro. Talvez você reconheça essa sensação: um olhar tenso, a respiração encurtada, uma ansiedade difusa que parece nos empurrar para frente, como se houvesse sempre algo a alcançar, sem que saibamos exatamente o quê. Esse tipo de olhar — acelerado, seletivo, inquieto — é o espelho de um corpo sobrecarregado, que não encontra lugar para repousar no presente.

Mas e se ver pudesse ser mais do que, simplesmente, captar e processar imagens externas? E se a visão fosse mais do que uma mera ferramenta de vigilância?

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