A urgência em desinstagramizar o olhar e viver histórias não noticiadas nos stories.
Pelo menos pra mim.
Como alguém que trabalha no digital e que no digital encontra e se conecta com almas afins que também acreditam e buscam aquilo que eu acredito e busco, uma vida deliciosamente selvagem, cheia de (c)alma e radicalmente corpórea, fica difícil levantar a bandeira do “mais histórias e menos stories” sem soar hipócrita e enfiar os dois pés na lama da contradição.
Porque a verdade é que eu não teria nem me descoberto escritora se lá atrás eu não tivesse decidido mergulhar fundo no mundo Instagram, profissionalizar a minha presença naquela plataforma e compartilhar ali os meus passos, movimentos, pensamentos, reflexões e o conteúdo rico que borbulhava na intimidade do meu mundo interior em sigilo.
Eu não teria me descoberto escritora se não tivesse ocupado com integridade e em tempo integral a minha presença digital e feito dela uma constante, um hábito diário.
E certamente não teria te encontrado ou por você sido encontrada, se não tivesse instagramizado o meu olhar e passado a capturar fragmentos e momentos da vida para postar, muitas vezes em tempo real, aquilo que estava sendo vivido, experimentado ou pensado aqui do lado de cá.
Eu me descobri escritora ao mesmo tempo que você me descobriu como escritora.
Não teve um que veio antes do outro, não teve preparação e não teve rascunho. Tudo aconteceu junto, no ritmo do enquanto, e via Instagram. E foi muito gostoso.
Foi intensamente vivido e deliciosamente desfrutado, até que deixou de ser.
Até eu perceber que estava perdendo uma das minhas melhores habilidades.
Aquilo que singulariza a minha escrita e me faz tocar fundo no seu profundo e dar vazão a águas e fluídos represados, um dos dons inatos com o qual eu fui generosamente presenteada nessa encarnação, talvez o mais preciosos de todos, um hábito da infância que eu soube nutrir vida a fora e trouxe comigo para a vida adulta, algo que era o meu lugar comum até que o Instagram virou parte central do meu trabalho e o meu trabalho virou parte central da minha vida.
Aí a massa do meu pão com uva passa desandou bonito e uma urgência nasceu.